Desaparecimento forçado no Brasil: negligências, permanências e resistências
DOI:
https://doi.org/10.22370/syt.2025.12.5505Palavras-chave:
Desaparecimento; Mães; Estado; direitos humanos; resistênciaResumo
O desaparecimento de pessoas é um fenômeno amplo, multifacetado e polissêmico em que vários atores sociais estão envolvidos. O Estado tem participação direta, quer pela negligência para com as estatísticas (ausência de políticas públicas efetivas para combater o fenômeno), quer como responsável efetivo (quando através de seus agentes, é o próprio Estado quem pratica o desaparecimento). Mesmo quando não há agentes do Estado por trás do desaparecimento, as vítimas e familiares continuam a depender da sua atuação. No Brasil contemporâneo, os desaparecimentos forçados vêm se tornando um dos problemas de segurança pública mais urgentes, configurando um processo contínuo de violência institucional e de violação dos direitos humanos. De acordo com o mapa dos desaparecidos de 2024, em média 223 pessoas desapareceram por dia no país, com destaque para jovens negros entre 13 e 17 anos (Fórum Brasileiro de Segurança Pública, 2025). A partir deste cenário, este estudo analisa a categoria “desaparecimento” endereçando suas raízes históricas e sociais. Sujeitos políticos destacados no combate aos desaparecimentos, as mães e familiares de vítimas serão especialmente examinadas em suas ações coletivas de combate e resistência frente ao abandono do Estado. Desta forma, a pesquisa se propõe a refletir sobre as seguintes questões: o que caracteriza o fenômeno? Como se posicionam contemporaneamente os agentes do Estado diante do fenômeno? Como se relaciona o fenômeno com a reprodução social? Como se articulam as mães enquanto sujeito político junto ao poder público frente ao problema? Através de análise bibliográfica e documental, pretendemos discutir características e desafios do combate ao desaparecimento forçado no Brasil.
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